segunda-feira, dezembro 03, 2007

ASAE, os zeladores da saúde pública ou a brigada «anti-ecológica»


Todos sabemos o que é a ASAE. Nem todos sabemos o que significam estas lindas iniciais; Autoridade de Segurança Alimentar e Económica. Bom confesso que todos soubessem, eu não sabia!

Ora o nossa ASAE tem como seguinte áreas de intervenção, segundo o seu site oficial, a Saúde Pública e segurança alimentar; a Propriedade industrial e práticas comerciais; o Ambiente e segurança, ou seja, tudo o que os senhores quiserem pôr o nariz, podem. Ambiente na ASAE? Pensei que tivesse a ver com o Ministério do Ambiente, ou da Agricultura ou com os imensos organismos e entidades públicas que já tutelam este espaço. Enganei-me; a ASAE também fiscaliza isto.

Conhecemos a ASAE das reportagens dos telejornais, em que vemos gente encupaçada, com coletes que dizem ASAE, outros com bata de Sô Doutor a remexer em tudo o que acham que deveriam, outros a selar restaurantes e outros estabelecimentos... Tudo da mesma pandilha. Acertaram. Pronuncia-se ASAE!

Muitas histórias se contam à volta destes tipos, outros tantos mitos se formaram, mas facto é que por onde passam ou se ouve falar deles, deixam marca. Ficamos, por exemplo, proibidos de comer castanhas em cartuchos de lista telefónica ou jornal. Acho bem.

Todos conhecemos os inúmeros casos de adultos com malformações graves, devido a terem ingeridos castanhas que vinham nestes... “recipientes”, quando pequenos. Vai daí, a ASAE proibiu!

Também todos vimos ou ouvimos relatar histórias de pessoas que fabricavam e vendiam a restaurantes, croquetes ou rissóis caseiros, acabadinhos de fritar, feitos à mão com ingredientes que os próprios comeriam se não os gastassem no fabrico. Todos também sabemos os problemas que se originaram a partir daí; pessoas sem qualquer esperança de futuro, com a sanidade mental comprometida. Ok, temos aqui um problema. Vai daí, chegou a ASAE e proibiu! Agora só croquetes e rissóis embalados e congelados, dos quais ninguém sabe a origem, nem os ingredientes e, mesmo que o saibam, desconfio sempre do fabrico industrial, com conservantes e...

Existia também o problema do romantismo. Sim isso mesmo; aqueles jantares à luz das velas, com ambiente amoroso, romântico, com flores naturais numa jarra, em cima da mesa, que se oferecia à pessoa amada... Blhec, que lamechice! Veio a ASAE e acabou com isto. Não há cá flores naturais em cima da mesa, porque podem deixar polém e outras substancias altamente anti-higiénicas. Agora só flores de plástico! Que romântico oferecer flores de plástico (ao menos são virtualmente eternas, como o amor que se afirma no casamento)...

Chávenas, pratos, copos e talheres, nada escapa à ASAE...

A partir de Janeiro de 2008, a loiça vai ser proibida nas esplanadas. O porquê nas esplanadas em detrimento de outros locais de comercio, desconheço, mas vai ser proibido. Aqui percebi finalmente, o porquê da ASAE incluir nas suas funções o ambiente. Ora não se pode utilizar loiça. Loiça esse que seria lavável e reutilizável, algumas vezes. Muitas vezes. Ora em substituição da loiça, temos os inevitáveis copos de plástico descartáveis. Imaginem que, uma esplanada, serve 30 chás por dia. Antes eram 30 chávenas, no mínimo, para lavar, por dia. Agora serão 30 copos de plástico que demoram milhões de anos a se degradarem. Estão a ver o alcance ecológico desta medida? Abaixo o desperdício, abaixo a poluição, viva o (bom) ambiente! Lá está, ambiente...

Colheres de pau, nem pensar, só se podem manusear as suas primas de plástico ou metal. Panos para limpar as mãos, nem em sonhos, só toalhetes de papel que só se utilizam uma vez e deitam fora. Comprar azeitonas, queijos, enchidos ou outros géneros alimentares não embalados nas feiras, impossível. É proibido! E as pessoas que morriam devido à fava ou brinde do bolo-rei? Uma barbaridade! Mas acabou, aplaudam a ASAE.

E podia continuar...

Falemos sério; é bom que se acabe com todo o tipo de falta de higiene. Seja em que local for, ramo de negócio ou actividade humana. Mais ainda quando essas actividades são prestadas a terceiros. Fiscalizar, punir, fechar, se preciso for. Mas... inundar de regras absurdas o mercado? Quem impede ao fabricante industrial de croquetes, adulterar a composição dos mesmos? É por estarem embalados que não expiram o prazo recomendado para o seu consumo? Não é, não vai ser!

Tudo o que é em excesso é absurdo. Susceptível de ser caricaturizado, ridicularizado. Corre o risco de deixar de ser crédulo e aceitável. Podemos passar a ignorar ou, ainda pior, contradizer, só porque.

Este excesso de zelo higiénico, não nos vai levar a lado nenhum! As faltas de higiene ou escrúpulos continuarão a existir, assim que a fiscalização afrouxar (e afrouxará, inevitavelmente). Ainda mais quando há fugas de informação e se sabe de antemão, quando é que a rusga da ASAE vai passar em tal sítio e porquê.

Como já me foi dito por alguns médicos alergologistas (infelizmente, sofro deste problema): as reacções alérgicas são tanto mais violentas, quanto mais isolado das bactérias viveu a pessoa em questão, enquanto criança. Ou seja, no excesso também pode estar na origem do mal, também.

Nem sempre, é verdade, mas também...

0 comentários