segunda-feira, julho 10, 2006

Coisas do futebol, parte III (para acabar)


Ontem, antes de ontem, um dia destes os jogadores de Portugal chegaram à pátria e foram recebidos como se fossem os campeões do mundo... Isto apesar de terem ficado em 4º lugar e de, para mim, terem feito uma figura de equipa medíocre nos últimos três jogos disputados no mundial, mais flagrante nos últimos dois. Mas pronto, canta-se o hino, agradece-se muito (e com o sotaque brasileiro que é muito importante nisto de dar um toque exótico e estrangeiro à coisa) e somos à mesma os melhores.

Aliás, o hino só existe porque existe futebol e as bandeiras foram feitas para se agitar nas bancadas e reportagens ou emissão em directo dos jogos, enquanto os repórteres gritam, depois de um momento de maior e esfusiante alegria mamem, seu filhos da... (aquela gente de não se pode dizer aqui o nome e que trabalham algures na rua ou em pensões manhosas), em pleno directo pois claro. Assim é que é bonito e contagia os adeptos / telespectadores e dá o tal toque exótico à coisa, mesmo sem sotaque brasileiro.

O futebol pintou nos últimos tempos o que a má gestão deste país nos últimos (e largos) anos os sucessivos governos e incompetência fizeram por descolorar. Sabemos, por experiência própria e anterior que esta cor que foi agora pintada será necessariamente efémera. Lembram-se do Euro 2004? Onde já vai a cor que este evento deu ao país...

Mas é obra juntar uns quantos camelos num Domingo abrasador no estádio nacional para ouvirem (mal) falar os jogares de seleccionador nacional (gostam do sotaque, só pode). Um discurso riquíssimo em que o obrigado, esforço, agradecemos, obrigado, esforço, agradecemos e... foram repetidos vezes sem conta num discurso redondo, redondo, redondo e como todos eles (os discursos) com esta forma, vazios, sem sentido, ocos, tendenciosos, "venenosos"... Obrigado, esforçamo-nos muito, agradecemos o vosso apoio, obrigado pelo vosso esforço... bla... bla... bla... Regamos estes discursos com um hino nacional cantado e Campeões, campeões, campeões, gritado e a interromper o discurso pobre, e temos uma festa nacional, passamos a ser os maiores e isto é tudo muito bonito, com cores intensas e brilhantes. E a praia estava tão boa, ontem, coitados...

Agora que acabou o futebol a abrir jornais, telejornais, revistas, a servir de pretexto para todas as conversas de café e todos os reencontros ou encontros tinham um Então e a selecção pá, está-lhe a dar, heim?, vamos ver do que é que este país vai viver. Quando a bandeiras caírem das varandas, de tão queimadas do sol e as conversas começarem novamente a ser o vazio e leveza que se sente nas carteiras de alguns (a maioria) de nós, quero ver...

Será que ainda teremos o sotaque e regabofe abrasileirado para nos socorrer com a fantochada cantante que se instalou no país, nos últimos tempos? Será que as bandeiras e cachecóis agitados furiosamente ainda vão conseguir afastar o cheiro a podridão que (quase todos) os nosso políticos vão emanando, qual suor desta "classe operária"? Será que o barulho do hino (mal) cantado vai conseguir abafar as notícias que vão sendo segredadas de actos corruptos, tachos, cunhas e outras actividades "amistosas" e tão em voga no nosso país, que tais?

A ver vamos, como dizia a ceguinho... Pelo menos por agora já posso respirar algum ar não poluído pelo futebol em excesso (sim porque o futebol continua a ser e será sempre o sangue e coração do nosso país. Do nosso e de muitos países terceiro-mundistas que se querem mostrar como evoluídos à força do futebol e da sua selecção)

Bem com tudo isto, sempre deu para ensinarmos o hino a alguns labregos de fabrico nacional que não o sabiam e deu para ensinar a história / simbolismo / significado da nossa bandeira. Pena ter sido a febre futebolística a inspirar tudo isto... Mas, nada, nunca, poderia ser 100% mau e assim até eu gosto de futebol.

É caso para dizer Viva Portugal ou gitar Portugal, Portugal, Portugal até à rouquidão extrema. Por uns breves instantes conseguiu ter a quase totalidade dos seus habitantes satisfeitos e em torno de um ideal, coisa que dificilmente terá acontecido desde os tempos quentes do pós revolução de Abril!

Fim do futebol por estas páginas... pelo menos por enquanto...

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