O ser ou não se ser, o parecer e o ter e a religião
Nestes dias em que a coisa religiosa anda mais ao de cima, não só por ser natal, mas também pela cada vez maior proximidade do referendo ao aborto (eufemisticamente denominada de interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas de gestação), vou divagar um pouco, posso?
A religião não está ultrapassada nem passou de moda! A religião será sempre actual (e é-o cada vez mais) enquanto houver duas pessoas na face iluminada, clara e racionalmente compreensível da terra, porque ensina-nos a conviver salutarmente, enquanto pessoas responsáveis, adultas, saudáveis e lógicas.Depois temos tudo aquilo que se aproveitando da religião e que a denigre e degrada aos olhos dos leigos que, acreditando que existe algo superior, não querem expressar a sua fé, pelos maus exemplos que têm (terrorismo, fanatismo, etc.) e por questões meramente filosófico-político-sociais, aspectos inventados pelos homens e baseados em questões artificiais, inventadas por nós, altamente falíveis como todos nós e os nossos inventos. Ah, claro, também não são religiosos, crentes, defensores por ser uma beca careta!
O que está a dar é ir nas ondas, é aceitar o que os outros aceitam, porque assim não se é criticado, apontado, achincalhado ou excluído ou o que for do que quer que seja! É mais fácil, confesso que penso o mesmo, ir na onda, deixar ir, rolar a cena men, mas seremos pessoas completamente formadas quando não tomamos as nossas próprias opções ou fazemos as nossas escolhas, certas, erradas ou nem uma coisa nem outra? É assim tão mau ser-se diferente, pensar por nós, sermos notados pelas nossas escolhas? Aqui bate em tudo, em muita coisa, não só na religião.
Mas voltando ao rumo inicial, é um facto que temos maus exemplos dentro das igrejas, dentro das comunidades, mas as comunidades são feitas de homens como nós e por isso não menos falíveis ou não mais perfeitos do que todos nós, mesmo os não crentes. Então porque interpretar as suas acções como sendo de seguir? Ou ainda porquê de levar à letra essa interpretação apenas quando os exemplos são maus? Há tantos bons exemplos que poderíamos seguir e usar como (boas) referências.
Será que ter valores é assim tão mau? O não roubar, enganar e tudo o resto que se aprende nas catequeses será assim tão incorrecto? A solidariedade, a inter-ajuda, a ideia (cada vez mais utópica) de comunidade, estará assim tão distante do nosso futuro, cada vez mais incerto e indefinido?
Tudo isto, toda esta incerteza e confusão de valores, numa altura em que se apregoa a evolução tecnológica, a evolução cientifica, a evolução em traços gerais do tudo o que o homem utiliza, cria ou sonha. Está tudo cada vez melhor! Então porque é que as pessoas são cada vez mais infelizes? Porque é que estão cada vez mais insatisfeitas e descontentes com a vida?
Nem todos dirão, claro que não, mas aqueles que se atrevem a pensar e a tentar ver mais além vêem como tudo isto está assente em pressupostos errados e erróneos que apenas favorecem a desagregação da sociedade e a perda de valores fundamentais para a coexistência de tudo; planeta, homem, animais!A exploração não ocorre só ao nível dos materiais, matérias-primas que utilizamos para o nosso bem estar (essencial, mas não primordial) e para a nossa evolução, mas ao nível das pessoas e de tudo o mais que for preciso para alcançar a nossa sede de poder, ser e ter. A consequente degradação que nos rodeia e oprime o nosso habitat, cada vez mais reduzido, que grande parte de nós ainda consegue ver, mas cospe em cima com desprezo e desdém, será a nossa morte. Vemos isso, mas continuamos em frente, afinal o caminho está certo, fomos nós que o criamos, não poderá estar errado!
Já nem sei como isolar este texto novamente na religião... Acho que tudo está tão intimamente ligado que é-me muito complicado trinchar um sulco separador entre vida e religião.
Atenção que religião para mim, se calhar não deveria chamar-lhe religião, não é ir à igreja e arrepender-se muito, publicamente, dos pecados, nome horrível para os erros que se vão cometendo pelo caminho. Todos erramos! Temos é que ter consciência disso e tentar não repetir. Religião não estará também ligada aos edifícios, vestes e toda a parafernália de objectos de adorno que são mais ou menos usados nas celebrações. Não é também o rastejar e sofrer, física ou psicologicamente, agruras do pior para justificar e apagar os maus actos.
Religião é olhar em volta e ver a harmónio que no meio do caos ainda se consegue observar. É sorrir às dificuldades com certeza e confiança. É andar e sentir que os nossos passos não são em vão e que a marca que deixam dificilmente será apagada por outros que se lhe tentem sobrepor. É sentir que temos presença, que fazemos escolhas, que somos capazes de algo. É podermos errar. É podermos aprender, vendo, experimentando, fazendo, sendo, escolhendo. É sermos!Mas para sermos precisamos de arriscar, de ser diferentes. Aproveitem o natal, estas pausas, o comer de alguns docinhos a mais, a maior calmaria destes dias, o estar com a família, o sentir o calor das pessoas que gostamos. Sejam vocês, arrisquem, marquem!
Divaguei ao máximo não foi? Já nem eu sei bem o que escrevi, mas foi o que senti e me ocorreu, se tem lógica ou não, já são outras núpcias...
E a todos um feliz, santo (religioso ou não) natal, maravilhoso como ele pode ser se vivido "religiosamente"!
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