A floresta portuguesa de «boa saúde», fui eu que inventei!
Esta frase bem poderia ter sido proferida pelo Sr. Director Geral da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, de seu nome (Professor) Francisco Manuel C. de Castro Rego, Engenheiro Silvicultor, no passado dia 7 de Fevereiro, na apresentação da 3ª revisão do IFN (para que conste, Inventário Florestal Nacional).
Mostra-nos este estudo que afinal a floresta portuguesa, em particular os sobreiros, uma espécie sensível e de crescimento lento, e apesar de ano após ano vermos dizimadas vastas áreas florestais que NUNCA são recuperadas ou reflorestadas, vai em franco progresso. Surpreendente!
Evolução das espécies predominantes na floresta portuguesa, ao longo das 3 revisões do IFN.
O Sr. Director diz que este facto se deve à política de reflorestação desta espécie, na qual os proprietários são intimados a plantar 10 sobreiros, por cada um que morrer ou é arrancado. Logicamente e tendo em conta que um sobreiro demora cerca de 60 anos a fazer-se uma árvore adulta e reparando que entre a 2ª e 3ª fase deste IFN decorreram apenas 10 anos, estou convicto que decerto será fruto desta política de substituição de 1 por 10, o crescimento da área ocupada pelo sobreiro...Ou então também leram o livro do Astérix, no qual o druida Panoramix, inventou uma espécie de sobreiro de crescimento ultra, mega, hiper (qual Floribela) rápido. É caso para dizer, que neste caso, quem inventou o sobreiro, foi o druida e não o Sr. Director-Geral...
Mas adiante...
Depois facilmente podemos verificar que não são abatidos nenhuns sobreiros para construir urbanizações ou empreendimentos turísticos, por exemplo. Claro que estes são todos replantados na razão de 10 para 1. Mas em vasos, nos prédios que são entretanto construídos no lugar que dantes eram dos sobreiros...
Podemos pois considerar que esta é uma oportunidade de ouro, segundo o Sr. Director-Geral, para implementarmos um plano de fundo na reflorestação equilibrada e planeada do nosso país. Esquecemo-nos também e para leigos que todos somos nestes assuntos, que o governo “doou” às populações as áreas que tinham sido expropriadas e que todos as conheciam por baldios.
Ao fazer isto o governo não só se livrou de acarretar com as culpas que tinha (e tem, por anos e anos de abandono e má gestão) no estado caóticos das florestas portuguesas, como pôde, de ânimo leve e atitude inconsequente, legislar sobre esta matéria, impondo multas a quem não tratasse a sua floresta. Já não sendo da sua responsabilidade, conseguirá amealhar mais uns tostões às Assembleias de Compartes, Juntas de Freguesia ou Câmaras Municipais que entretanto tomaram conta dos referidos baldios. De extrema má fé!
Qual a razão de tudo isto? Para quê o estudo nos dizer que agora é que temos uma boa oportunidade para a reflorestação, se:
1º - o estado já não controla os terrenos e por isso essa tarefa terá que ser levada a cabo pelos proprietários, associações, assembleias de compartes ou outros
2º - em mais 30 anos, o pouco que foi feito em termos de reflorestação / gestão florestal, foi ignorado, descurado e abandonado
3º - os incêndios florestais continuam devastadores e incontroláveis, ajudados pela desertificação do nosso interior e consequente desregulação da floresta que cresce em cima e dentro das aldeias, em cima dos percursos viários, devorando corta-fogos e constituindo enormes massas compactas de matagais impenetráveis
4º - em vez de ajudar, guiar, sugerir, apoiar, o governo multa, numa atitude arrogante, castradora e autoritária, empurrando a responsabilidade pelo desastre na gestão florestal do país, para quem herdou um “presente envenenado”, com anos e anos de incúria e que agora tem, por força de leis altamente punitivas, controlar e gerir tudo já ou de preferência, ontem
Assim vamos vendo a floresta minguar, apesar dos estudos e das boas intenções e o nascimento de uma nova monocultura de eucalipto que virá, vagarosamente, substituir a monocultura do pinheiro-bravo. Substituem-se as espécies, persiste-se nos erros passos, com a agravante que o eucalipto é muito mais agressivo para os solos e sua consequente degradação e de muito mais fácil ignição, contribuindo para o aparecimento de mais incêndios florestais, sua rápida propagação e esperado descontrolo dos mesmos.
E vamos vivendo de discursos, estudos e conclusões que se vomitam para o povo, porque, quem não sabe, é como quem não vê e, aos meus ouvidos isto não faz sentido nenhum, mas aos ouvidos dos outros... finalmente está-se a fazer alguma coisa para travar a desertificação do nosso Portugal...
É caso para dizer: “É isso, não mexas mais!”
LINKS
- Apresentação das conclusões da 3ª revisão do IFN, aqui.
- Mais informações sobre o IFN, aqui.
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