Não, Sr. Ministro
Podia ser um nome de uma série de televisão, mas não, são as vozes dos portugueses que se fazem ouvir um pouco de norte a sul do país, contra o Ministro da Saúde, Correia de Campos e a sua incompreensível política de (boa?) gestão do sector da saúde, altamente deficitário para o estado. Mas não será assim que deve ser, deficitário? Não pagamos nós os impostos para que assim seja? Não pagamos já taxas moderadoras? Não esperamos já tempos inadmissíveis por consultas ou operações?
As urgências que se querem optimizadas, segundo o Sr. Ministro, não me parece que sejam a solução para todos os males de má gestão dos bens do estado (de todos nós portanto), como nos querem fazer ver. Fechar urgências e centros de saúde uns atrás dos outros, mormente no interior do país, já debilitado, fragilizado, ostracizado, esquecido, abandonado e muitíssimo envelhecido, não me parece ter qualquer lógica. As acessibilidades e a mobilidade das pessoas são parcas e escassas, pelo que mandá-los fazer uns 40 quilómetros, coisa pouca nas grandes cidades, é tarefa inglória, dispendiosa e de difícil execução, para a maioria da população do interior, como já disse, maioritariamente envelhecida.
Escuso de falar nas baixas reformas e no custo que cada ida ao médico poderá representar nos magros orçamentos familiares que dispõem mensalmente. Acho que isso já é um assunto largamente discutido e ampliado mediaticamente por todos os candidatos a governantes que prometem mundos e fundos, como aliciante ao voto, e que depois deixam tudo na mesma, ou ainda pior.
Agrada-me toda esta contestação e agitação, confesso! O povo, comuns mortais, reunidos num ideal comum que não os interesses privados de alguém que poderá lucrar com o que quer que seja, numa dada situação ou momento. Aqui somos todos por todos e todos por um! Ainda mais quando o assunto é de uma injustiça tremenda; a saúde é para todos e não para alguns que têm a sorte de viver à beira de hospitais, centros de saúde ou outros.
Fiando-nos nos argumentos bacocos que nos fazem ouvir e concordar à força, não teria mais lógica descentralizar os grandes hospitais para os pontos mais desfavorecidos? Vejamos alguns pontos que podem ter tanto peso como os que o Sr. Ministro nos quer impor os seus, como únicos válidos...
1 – a maior riqueza está concentrada no litoral do país, mais concretamente nas grandes cidades. A população que aqui reside é mais jovem e por isso menos propensa a doenças graves e de difícil tratamento. Assim também a capacidade de mobilidade será muito mais elevada nestas áreas do país. Maior facilidade em chegar aos hospitais que estejam longe destes centros, nomeadamente do centro das grandes cidades.
2 – o interior, abandonado que foi por todos os governos e continuará, tendencialmente, a sê-lo, representando poucos votos úteis, carece de rejuvenescer a sua população, sob o risco de cairmos num ciclo perigoso e altamente viciado negativamente: menos mão de obra, menos fixação de capital / geração de empregos e riqueza, menor capacidade de fixação de população activa, menos mão de obra...
3 – quanto mais para o interior foram os hospitais, mais perto estaremos de Espanha e assim teremos acesso privilegiado aos médicos espanhóis. Por outro lado ficamos mais longe dos dentistas brasileiros, mais perto que estão do Oceano Atlântico... (bom prefiro os médicos espanhóis, sinceramente)
Pronto, ok, confesso que este ultimo ponto foi a ajavardar um bocadito... Mas poderia ser um argumento tão lógico com outro qualquer, num cenário de um país onde os governantes têm pelo povo o mesmo respeito e consideração que uma pessoa tem pelas pedras da calçada, quando anda sobre esta: NENHUM! Mas claro que este é um cenário meramente hipotético em Portugal...
Focando agora nos centros de saúde, SAP (serviço de atendimento permanente), as justificações para o encerramento e concentração dos mesmo é quase ainda mais absurda que as urgências hospitalares. Se querem desanuviar os hospitais das gripes e outras ocorrências corriqueiras, como se pensa conseguir isso, fechando os centros de saúde ou limitando o horário do seu funcionamento?
Claro que os boatos, perante o cenário de ir experimentando as populações para ver quais as que protestam menos com as notícias de encerramento, está lançado no país e mesmo em situações em que nada irá mudar, já se fala, entre profissionais e utentes, que isto vai acontecer, este vai fechar, aquele vai-se mudar, etc. Mesmo em grandes centros urbanos, ninguém sabe o que vai acontecer, tal a voracidade irracional demonstrada pelos estudos encomendados pelo Sr. Ministro, e apimentada QB com o toque pessoal deste Ministro que não compreende as funções para as quais foi escolhido para o actual cargo que representa. Ou o mal será mesmo do Primeiro-Ministro que contamina todos os colegas de governo?
Depois vemos uma coisa... fabulosa acontecer; o Sr. Ministro desrespeitar o poder local, como se ele fosse o detentor da razão, do conhecimento local e do poder de boa gestão dos dinheiros públicos. Não estou a defender ninguém ou a criticar outros tantos, mas, pelas aparições e declarações publicas que o Sr. Ministro tem feito, foi dado a perceber o desprezo que este sente por quem o afronta, ou melhor, tenta defender aquilo que é logicamente defensável e, mais uma vez, neste assunto, com a razão a pender para o lado dos autarcas, eleitos de modo tão legitimo, como o Sr. Ministro da Saúde Correia de Campos.
Mas estes ministros já não têm habituado a estes tiques de ditatorialismo moderno, sob a égide da racionalização de recursos disponíveis. Será lógico assim continuar? Continuamos a ter conhecimento de ordenados milionários dos gestores de empresas públicas. Continuamos a ouvir e ler notícias de cargos que são criados “a extinguir quando vagar”, ou seja, criados de propósito para alguém que, quando se reformar, deixará o seu cargo extinguir-se, tal é a sua especificidade no trabalho. Continuamos a sentir que o fraco crescimento económico nos empurra, cada vez mais fortemente, para o pelotão da Europa. Continuamos a esperar do dia em que o discurso da tanga, criado mas não gerado pelo Sr. Dr. Durão Barroso, actual presidente da Comissão Europeia (pelos vistos a Europa concorda com a visão política do rapaz), dará lugar, não a um discurso, mas a uma realidade, não da tanga, mas do fato e gravata.
Se calhar não será assim tão lógico continuar na mesma linha condutora que até aqui; os resultados estão (quase todos) à vista de quem os quiser ver!
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