Para lá caminhamos...
Com frases felizes (mas verdades certeiras), com as proferidas pelo ministro da economia antónio pinho na visita que o governo está a fazer á China, em que afirmou que uma vantagem competitiva de Portugal e uma boa razão para o investimento estrangeiro no nosso país, eram os baixos salários e o fraco poder reivindicativo dos trabalhadores por melhores condições, lá estaremos em 2012 ou antes ou depois, mas para lá vamos, com este ou outro discurso de desgraçadinhos.
Claro que foi Portugal inteiro que compreendeu mal esta frase, porque o rapazito até não quis dizer nada disto. Além de desunidos, explorados, crentes e conformados, somos estúpidos! Que belo país para investimento estrangeiro; um paraíso, diria mesmo...
No outro dia, num encontro de amigos, alguns dos quais recentes trabalhadores, queixavam-se estes das dificuldades que sentem no mercado de trabalho, da desunião das pessoas e do “salve-se por si”, do “lamber de botas” que existe. Verificavam também tristemente que são esses que crescem, são promovidos, se impõem e têm regalias e cargos de gestão, quando os competentes, trabalhadores, esforçados e, por inerência, candidatos aos cargos de topo, vão ficando por baixo, espezinhados por incompetências e corrupções que os fazem atrofiar, regredir e acabar por se ficarem no marasmo de empregados que não trabalhadores. Surpreendente como alguém com apenas um ou dois anos de vida de contratado, consegue já fazer um panorama tão negro e duro (mas verdadeiro) do que todos acabamos por passar!
Claro que chegámos todos, naquele encontro, à conclusão que a causa de tudo isto é a desunião, desinteresse, despreocupação com o colectivo, dêem-lhe o nome que quiserem, que se passa e sente, em Portugal (no mundo, talvez?). “Eu preocupo-me com o que é meu, os outros, eles que façam por eles que eu não quero saber”.
É triste que um país tão jovem na democracia e com as memórias tão vivas de uma ditadura que só foi vencida pela união de todos, possa estar a passar por uma situação como esta. Não é um problema dos governos, é um problema nosso! Discutimos e interessamo-nos pelo que nos interessa a nós e deixamos de lado o colectivo e o bem estar da sociedade e mais, até somos capazes de prejudicar uns quantos, desde que nós fiquemos bem, contentes, felizes e refastelados. Somos individualistas, invejosos, mesquinhos, rídiculos...
Podemos pegar no exemplo fresco e inacabado do referendo ao aborto, em que assistimos a campanhas vergonhosas, quer do lado do sim, quer do lado do não. Em vez de informar as pessoas, vemos um chorrilho de insultos e disparates sob forma de razões sedutoras para um lado ou outro da barricada, pelos diferentes partidos ou movimentos. E os esclarecimentos? E as razões pelas quais nos devemos decidir? Não temos, não sabemos, ninguém sabe bem ao certo, mas vou pelo que está a dar, pelos que os meus amigos dizem, pelo que passa mais na rádio ou TV e está mais in... E pensar por nós, não? E o país pára para ver estes circo... E os outros assuntos? Não se passará mais nada? A nossa existência agora ficou limitada ao referendo ao aborto?
Alguém diz que é assim e nós fazemos e nem sequer questionamos o porquê, mesmo que discordemos do que nos é dito. Em ultima instancia e transpondo isto para o mercado de trabalho, passa-se vincadamente o que digo nas relações entre chefia – subordinado. O superior diz e ninguém questiona; é verdade suprema e dogmática... Nada de mais errado! Devemos dar sempre a nossa opinião, sendo certo que em ultima instancia e em caso de desacordo total entre as partes, a responsabilidade, sendo sempre do superior hierárquico, é natural que a dele vá avante. Mas muitos nem nada dizem, com medo de serem mal interpretados e que possam ser punidos por isso! Ridículo! Depois vemos empresas “fantasma”, em que tudo gira à volta de um “astro” que se pavoneia das suas decisões, que são criticadas e ridicularizadas por todos, mas como ninguém diz nada (sem ser pelas costas)... Em ultima instancia vai tudo à falência e ficam todos prejudicados... Pergunto eu: o mal foi só do superior, ou de toda a empresa?
Nem sempre assim se passa, mas acontece vezes demais...
Depois existe a corrupção por pequenas e insignificantes coisas. Sim, sei que a pressão da envolvente macroeconómica, cada vez mais desfavorável para todos nós, com a inflação ano após ano a subir acima do aumento concedido pelos patrões a nível salarial, acabamos todos por ser seduzidos “à força” pela facilidade de fugir aos impostos, IVA fundamentalmente, pelo comprar coisas na candonga, as coisas mais baratas. Contra mim falo, claro, não sou santo, nunca disse que o era e nem nunca serei, por muito que me esforce. Mas com este percurso paralelo acabamos todos por favorecer o florescimento de actividades paralelas e criminosas que apenas beneficiam quem as controla e nunca o colectivo, todos nós, o país. Acabamos, a longo prazo, por ficarmos todos piores do que o que estávamos antes.
E com isto e muito mais que se poderia aqui dizer, vamos hipotecando o nosso futuro. Não tão infrequentes vezes quanto desejaria, ainda ouço dizer “Ah, estamos aqui só de passagem, quem vier a seguir que faça alguma coisa por isto e por eles! Eu já fiz o que podia.” Ou “Não vale a pena! Quem me dera chegar lá acima para fazer como eles!” Caraças, será esta a atitude certa? Sermos com eles? Não será que deveriam eles (quem quer que eles sejam), ser como nós? Desistimos assim? Baixamos os braços e pronto?
Convençamo-nos que estamos em últimos, no final, atrás de nós, nada nem ninguém, no ranking da Europa (os países recém entrados ainda não contam, mas alguns já nos ameaçam passar). Como vamos sair daqui? Está visto, acho eu, que a atitude de resignação, da conversa catastrófica da crise eterna que nos assola, piorando com os anos e privando dos direitos ou regalias que todos temos direito, não nos leva a lado algum! Nem com o querer ser como eles, estar no poleiro e descansar que daqui ninguém me tira...
Se assim fosse nunca teríamos tido descobrimentos (que chatice agora ir fazer naus para irmos isolarmo-nos no mar, apanhar doenças esquisitas, espreitar outros perigos... Ainda por cima o mundo tem fim!), Portugal não existira (porque o Afonso, preferiu ficar a aquecer-se à Lareira, em vez de combater contra os interesses instalados, mãe incluída), os Lusíadas nunca tinham passado de uns papeis rabiscados por um zarolho, perdidos num qualquer oceano (nadar com os papeis na mão? Primeiro safo-me eu, depois logo se vê!), os árabes, nunca tinham abandonado a península ibérica (deixa-os estar, coitadinhos, até são bons vizinhos), a ditadura nunca teria acabado (eu morrer? Porquê? Pelos outros? Eh, se não falar muito até me safo, deixa-me estar sossegadinho no poleiro) e por aí fora...
Estamos cheios de exemplos na nossa história (e na história global) que o heroísmo e a união fazem andar para a frente, evoluir, saltar patamares e superarmo-nos a nós próprios, porque insistimos em fazer o contrário?
Já diz o ditado que “Só todos, sabemos tudo”...
E nós? Estamos à espera de quê?
1 comentário
medo, muito medo...
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