O interior de Portugal...
...está... deserto, desertificado e empobrecido. Não há empregadores e as honrosas excepções de alguns pólos empresariais, ladeiam orgulhosamente as Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Santas Casa da Misericórdia e outros organismos correntemente mais empregadores, nestes recantos.
A evolução ainda é feita longe dos grandes pólos habitacionais e das grandes vias de comunicação, auto-estradas e, recentemente, centros de saúde. A Internet é uma coisa que se ouve falar na televisão que se reconhece e até se conhece, mas não se usa. E-mail? Serve para quê, isso?
A televisão é captada ao som das interferências das torres eólicas que pululam um pouco por toda a parte e ao ritmo enfadonho dos quatro canais emitidos por ondas hertzianas. TVCabo? Sim, conhecemos, via satélite e apenas visionável nos cafés...
A paisagem, outrora verde, é de uma cor indizível, composta por um misto de preto, dos troncos chamuscados que ficaram em pé, resistentes heróicos a prazo, do ultimo fogo florestal que por ali passou, com o verde claro e tenro dos rebentos do mato rijo, que vão surgindo, um aqui, outro acolá, num ciclo de destruição renovação que a natureza nos impõe. Preferimos teimosamente observar a destruição, quem sabe para nos lamentarmos da nossa (pouca) sorte, desviando o nosso olhar para os imensos hectares de calamidade que teimamos em não cuidar. A prazo portanto, o verde que se observa e que rebenta por estes dias...
A população envelhecida, lamentando-se que o seu futuro é escasso, parco e sem ninguém que olhe por eles, vai sobrevivendo. Muitos viúvos, muitos doentes, outros tantos incapacitados, fecham-se em casa, ignorando que o mundo gira para além do marasmo em que se encontram. O Irão é longe, o Iraque não sabem onde é e assim vai morrendo a comunidade, perdem-se as histórias e calam-se os saberes antigos, passados ininterruptamente e com grande dedicação, de geração em geração.
Perdem-se os conhecimentos, esqueceram-se os caminhos, as terras estão desertas, nos socalcos reina o mato, silvas e toda a espécie de flora invasora prolifera onde outrora se ergueram muros, sustiveram terras (férteis?) e de onde saiu o sustento de muitas e numerosas famílias.
Perde-se perante o nosso olhar impávido, um país feito de tradições, conhecimentos, gerações. Um país onde tudo se desloca para o litoral, até as férias, onde a praia é tudo e o campo nada. Onde os velhos não são só os trapos, mas as pessoas abandonadas por todos, num país perdido na sua história passada, sem presente e sem qualquer futuro. Um país onde quem deveria lutar pelas igualdades de todos, ainda acentua mais as injustiças, carregando sempre na tecla economicista, numa gestão ruinosa para todos nós que o compomos.
Um país assimétrico, será sempre um país pobre. Será sempre um país ruinoso e arruinado, por mais que se tente caminhar no sentido oposto. Será sempre!
Contar os patacos no final e ver que nos sobram uns parcos dos muitos que tínhamos, nem sempre significou competência pessoal ou corporativa ou boa gestão. No caso de Portugal, o país dos portugueses, não tem significado nada disso, bem antes pelo contrário.
Basta que viagem por aí e se repare nas assimetrias, litoral / interior, norte / sul, Lisboa... e o “resto da paisagem”...
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