quarta-feira, abril 18, 2007

Futebol, Cristiano e Crise


Acho demasiado o novo ordenado milionário que o Cristiano Ronaldo vai auferir! Não o achar movido pela inveja ou desdém de quem não tem e gostaria de ter, mas um achar de quem julga que nada nem ninguém neste mundo, por mais nobre, bondoso ou bem intencionado que seja, deve ou merece receber mensalmente uma quantia como aquela. Astronómica...

No entanto ele vai recebê-la e de nada adianta aquilo que eu possa achar ou fazer e prevê-se que no futuro, ainda mais futebolistas poderão auferir aquela quantia ou quantias ainda superiores, à medida que se vão subindo os ordenados e vão surgindo “novos Ronaldos”, cada vez mais habilidosos e aptos para a função que desempenham, mais vão ganhar, mais lhes vão dar, mais irão receber, mais irão (aparentemente) merecer!

Continuo a achar demasiado... Gosto de ver o Cristiano Ronaldo a jogar (quando não está nos dias de vedetismo exacerbado), acho que efectivamente tem um enorme talento, mas, ainda assim, continuo a achar demasiado o que vai auferir.

Não condeno o próprio Cristiano Ronaldo, porque ele só o recebe. Se ninguém lho desse ou lhe desse aquilo que justamente mereceria pelo seu trabalho, continuaria sem o condenar, porque é uma variável que ele não controla (cheira-me aqui ao caso Sócrates vs UNI e às explicações dadas pelo primeiro que competiriam à segunda dar). Ele limita-se a fazer o seu trabalho e bem e cada vez melhor, para que seja mais recompensado e é justo que o seja. Mas assim tanto? Como ele, muitos se esforçam por serem cada vez melhores naquilo que fazem e até o conseguem. Nunca conseguem é ser mais recompensados ou reconhecidos, na mesma medida, proporcionalmente.

O problema é que o futebol arrasta multidões apaixonadas e tudo o que gera paixão, gera irracionalidade (alguém me consegue explicar, racionalmente, porque é que gosta de alguém? Sem aqueles atributos de ser simpático, fazer rir, faz-me sentir bem, porque isso é para lá de subjectivo) e a irracionalidade no futebol vai directamente ao bolso dos adeptos, sem que eles se importem muito com isso. Desde os bilhetes que se compram para assistir aos jogos, passando pelas quotas de sócio, cachecóis, bonés, camisolas, subscrições de canais codificados dedicados ao desporto (direi melhor, futebol!?!) exclusivamente, tudo irá cair, em maior ou menor percentagem, nos cofres de um clube. E nada melhor do que a esse clube ter um artista que lhe gere mais receitas.

Efectivamente, se tivéssemos acesso às contas dos grandes clubes, não as que nos mostram nas Assembleias-gerais, mas às contas “reais”, iríamos ver que pela quantia astronómica que auferem os futebolistas, o clube ganha... nem sequer consigo imaginar quantas vezes mais! Não cabe no meu padrão de numeração racionalmente atingível.

Não sinto que seja uma injustiça, não sinto que quereria receber mensalmente o mesmo para passar a achar tudo justíssimo, não acho que merecesse ganhar aquelas quantias (e acho que nem gostaria, tal seria a quantidade de “mamões” que iriam levitar à minha volta), apenas sinto que, tirando os critérios meramente economicistas e financeiros, é um exagero. Esses critérios não podem (diria melhor, devem!?!) ditar a nossa vida, enquanto sociedade.

Mas têm-no feito! Culpa de todos nós! E as crises sucedem-se com a má (diria melhor, péssima!?!) distribuição do dinheiro disponível que, como muitos dos recursos naturais que nos são essenciais, é um bem cada vez mais escasso (e por isso caro) para a maioria.

Quanto ao Cristiano Ronaldo, apenas fez por merecer... Não o condeno.

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