quarta-feira, abril 25, 2007

O 25 de Abril e o socialismo


Confesso que admiro o Hugo (Rafael) Chávez (Frias), presidente da Venezuela. Não por ser de esquerda, mas pelo que tem feito.

Não, não o admiro cegamente e incondicionalmente, porque o regime perfeito e a ideologia utopicamente justa, não estão ao alcance dos homens. Aqui e ali surgem afloramentos de justeza e exemplos de que se pode fazer alguma coisa para que tudo não caminhe para o abismo imposto pelo capitalismo, consumismo e (quase) tudo o que de mau a sociedade actual tem. E é por isso que eu o admiro.

Tem feito pelo povo da Venezuela, mais do que qualquer governante de qualquer país. Tem feito pelos pobres países vizinhos, mais do que qualquer presidente desses próprios países. Tem levado a cabo uma verdadeira revolução socialista, na verdadeira acepção da palavra socialismo (que não se pode comparar com os partidos socialistas europeus, em que o fato de marca, condiz com a gravata de seda, mais cara do que muitos ordenados mínimos).

Não será o regime perfeito. O socialismo também prejudicará alguém por certo, mas tenta, tenta construir sociedades mais justas e qualitativamente equilibradas. Os ricos, poderosos e endinheirados, claro que se sentirão injustiçados, com a perca hipotética de alguns dos seus bens, em detrimento do bem-estar comum de um país e de uma sociedade, na sua totalidade. Em ultima análise, os mais ricos também lá estão incluídos, com os mesmos direitos que os restantes, mas como estão muitos níveis acima...

Não apoio o retirar dos bens de quem os ganhou justamente, nem com o facto de que todos têm que ser forçosamente iguais em termos de rendimentos ou riqueza acumulada. Sou sim a favor da justiça! Por exemplo um gestor de uma empresa publica não ganhar enormidades sem justificação alguma plausível, nem ter, depois de se reformar, reformas chorudas, exorbitantes e totalmente desadequadas da realidade. Um exemplo só...

E é aí que o Hugo Chávez tem feito a sua obra e marcado a sua presença, na “imposição” de um regime socialista que se quer mais justo e desapegado. Com os lucros da venda do petróleo (nacionalizou todas as companhias extractoras do país, anteriormente, na sua quase totalidade, nas mãos dos Americanos), cria obras sociais de apoio e benefício da população. Combate a imposição injustificada dos países ditos desenvolvidos, nos bens que considera do seu país (o exemplo do petróleo em cima) e gere-os como seus, que efectivamente, são. Recentemente impôs a vigia das ruas de Caracas, a capital, de modo a tentar controlar a sinistralidade. Saúde sem custos para os venezuelanos. Alguns exemplos...

Admiro-o. E admiro-o porque é alguém que ainda tem ideais que não sejam exclusivamente os ditados pela macro economia e, os tenta seguir mesmo estando no topo da cadeia do poder. Poderão não ser os ideais perfeitos, poderá não ser a melhor maneira de os implementar, mas se estivermos sempre à espera da eterna perfeição intangível, vamos continuar todos com a corda ao pescoço ao final do mês, a contar os tostões para pagar as contas, os empréstimos, as dívidas, discutindo e argumentando sobre o que seria desejável ser feito e, vendo ao nosso lado, o “louco” do presidente venezuelano, a lutar contra as injustiças instituídas e a criar a sua própria sociedade, não perfeita, mas mais justa.

A revolução de Abril, o 25 de Abril de 1974 não está morto nem enterrado, está sufocado! Depende de todos nós pegarmos nos exemplos que temos, não só da Venezuela, mas nos pequenos exemplos que temos dentro do nosso país, de justeza e justiça, que há muitos. De pessoas que poderiam facilmente subverter as regras do jogo, mas que não o fazem, porque têm consciência que vivem numa sociedade com regras, injustas ou não, que têm que ser cumpridas e respeitadas.

Os ideais continuam vigentes na sociedade portuguesa, existem e estão cá, mas o desinteresse de todos nós, impede que eles vençam, impede que os políticos sejam mais sérios e ou responsabilizados, impedindo assim que a nossa sociedade se torne mais justa, nunca igualitária. Nunca seremos todos iguais, é um facto. Podemos é todos ser tratados de igual forma, que não o somos.

Só depende de nós, da nossa participação e do não esquecimento dos ideais que levaram a que rebentasse uma revolução. Curiosamente os mais novos nada sabem ou ouviram falar vagamente sobre o 25 de Abril. Têm uma ideia... O que estamos nós a fazer? A quem serve o esquecimento deste assunto? O porquê de, em recentes e parcos 33 anos e três gerações de portugueses, ninguém saiba ao certo o que foi (é!) o 25 de Abril? É só um feriado? Como podemos esquecer assim a nossa história?

Um povo só existe na medida em não esquece a sua história!

O que diferenciaria Portugal da Espanha se não fosse o D. Afonso Henriques combater a sua própria mãe, contra os interesses Espanhóis instalados, e as acções de todos os reis que lhe sucederam e todos as histórias que se contam acerca da formação do nosso país, guerras contra os espanhóis, combate aos mouros, batalhas ganhas heroicamente, etc, etc. O que nos diferencia agora dos outros países, se todos estamos debaixo do jugo cego da macro economia?

Nós lutámos por um regime mais justo em ‘74, a Venezuela constrói esse mesmo regime, hoje. Nós esquecemos a nossa história em 33 anos, a Venezuela recorda-a, para combater o que acha injusto.

O que mudou foi a vontade das pessoas em lutar...

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