terça-feira, julho 24, 2007

Ser ou não ser, é só se me deixarem


Adiei, adiei, mas tinha que falar aqui sobre isto. Sim, claro, sobre o aborto (não, não é o Primeiro-Ministro. E escrevo Primeiro-Ministro – outra vez – com letra grande para ver se me livro de um processo difamatório)!

Em Portugal, nesse país sui generis qb, englobado na Comunidade Europeia, aka civilização desenvolvida, berço de todo o conhecimento cientifico e pensamento moderno, tal como em muitos pontos desse berço civilizacional, legalizou-se o aborto. Não, não é despenalização da mulher que quer abortar e livremente decidir o que fazer do seu corpo, é mesmo abortar, enquanto meio de aniquilar quem ainda não nasceu, mas já vive. Isto livremente, sem problemas e de consciência tranquila, sem problemas, porque é legal.

É legal porque o povo assim decidiu, melhor, a maioria (que não só o povo, mas também os tecnocratas, os engenheiros – e por cá há muitos – doutores, pensadores, politologos – palavra que nem no dicionário aparece – , administradores – públicos – e demais cambada). Muito bem, sendo eu contra, mas vivendo em sociedade, concordo com a vontade da maioria e, continuando eu a ser contra, respeito os que sendo contra mim, estão em maioria e por isso, viva o aborto e a liberdade retrógrada que isso representa; já somos evoluídos!

Agora o que se reveste de contornos circenses é todo o arraial à volta de uma coisa simples: legalizou-se, pode-se fazer – e já não é proibido – faça-se decentemente. É amoral e imoral pagar todas as despesas a quem escolher fazer um aborto. Não, não é evoluído é simplesmente estúpido!

Eu estou constipado, vou ao médico, tenho que pagar. Ok, são dois euros e uns cêntimos poucos, mas paga. Vou à farmácia comprar os medicamentos que me receitaram, porque não mos dão de borla nos centros de saúde (ou deverei dizer hospitais? É que acho que os primeiros já não existem ou pelo menos passam muito despercebidos) e pago. Depois, se precisar de voltar ao médico, mesmo que o assunto seja a mesma constipação que lá me tinha levado, volto a pagar os mesmo dois euros e miseráveis cêntimos, mas pago. Se precisar de uma especialidade, de uma operação ou de outro tratamento mais especializado ou pago para ir ao privado ou espero nas listas sem fim ou imigro e vou para um país evoluído onde, não pago só os mesmos miseráveis dois euros e alguns cêntimos, mas sou atendido em tempo útil, ainda em tempo de vida e que me possibilita ser tratado e continuar a viver sem a tal doença. Ah, mas em Portugal estes tratamentos, mesmo no sector publico da saúde, também se pagam e bem, mas pouco, porque muitos “apagam-se” antes de chegar a sua vez.

Isto, este filme todo, é para uma constipação que afinal era algo mais complicado e tinha que se tratar. Se fosse um aborto... já não se paga e ainda se leva uma palmadinha nas costas e um: “Obrigadinho e até à próxima (aborta, feminino de aborto)”!

Para tentar remediar este cenário, vai o Sr. Eng. Primeiro-Ministro e dá mais benefícios a quem decide ter mais filhos e famílias numerosas. Duplica o já de si alarvíssimo subsídio de família ao segundo filho, triplica ao terceiro... Fantástico! Apenas de salientar que isto é para quem ganha menos – segundo o IRS, ou seja, os médicos, empresários e nunca os trabalhadores por conta de outrem – e, que o tal subsídio é uma soma que ronda os trinta euros para crianças com mais de 12 anos e cento e trinta para crianças com menos dessa idade. Por mês. Dá para comprar duas embalagens de fraldas, fantástico. Ora duplicar ou triplicar esta quantia... É uma pequena fortuna! Mas acho bem, não vão começar os supra citados usufruidores deste benefício deixar de trabalhar para viver à sombra deste subsídio.

Ainda assim, sempre temos, antes de fazer contas de sumir e verificar que a subida dos subsídios é poeirada política que a manada faz ao avançar, a hipótese do aborto, legal, pois claro e pago na sua totalidade. Com a sorte de que temos muitos objectores de consciência e ainda podemos ir para a um hospital longe ou mesmo no estrangeiro e que nos permita passar umas boas férias, à conta de todos nós, os evoluídos apoiantes da ciência, conhecimento e saber ao serviço do bem estar do homem (e mulher).

Com ainda mais sorte, podemos combinar com um desses objectores de consciência uma ida à clínica onde faz uns cobres a mais, em que um colega que tem outro nome, mas a mesma compleição física, fisionómica e demais (diriam-se gémeos, tal a semelhança), por acaso já não objector, pratica o acto que o outro, em local diferente, não praticou.

E no final de tudo isto, surge o rufar dos tambores; será mais uma peça a caminho da evolução do país ou um Pessa que diz: “E esta heim”?

2 comentários

Anónimo disse...

o nosso unico mal é que não sabemos coordenar/organizar/dirigir o que nos rodeia.. é sempre o melhor caminho,o que deu menos trabalho de preparar.. já aqui o disse, sou a favor do aborto e votei SIM.. mas sempre com a esperança que depois houvesse uma acção dirigida a quem necessite desse serviço e que não optassem pela via mais facil: "ora bem! a lei já está, agora o q fazer? bem deixamos as mulheres fazerem e ainda não lhe cobramos nada!".. admito que não é o melhor caminho.. há muito a discutir/pensar para este problema.. mas a sociedade necessitava dum primeiro passo para evoluir (mesmo que por vezes comecemos menos bem)..

digo eu.. :) .. *beijinhos*

PE disse...

E dizes muito bem!