quarta-feira, janeiro 17, 2007

NÃO!


Não é uma questão de moda, de partido (até porque tendencialmente serei de esquerda e a esquerda será tendencialmente a favor da despenalização) ou de “ondas”. É uma questão de consciência, de sentimento, de compreensão, de interiorização do que realmente se está a tratar na votação do referendo sobre o aborto.

Eu votarei NÃO, mas não quero com isto influenciar ninguém na sua votação. Gostaria sim que todos votassem em consciência e que fossem até proibidas todas e quaisquer campanhas públicas sobre este assunto. Não são os partidos, movimentos cívicos ou outros que estão em causa! É sim todo um conjunto de valores que regem a sociedade e que podem condicionar e ou influenciar toda a vivência entre as pessoas daqui para o futuro.

Penso que hoje em dia a despenalização é inadmissível sob o pretexto de que é uma liberdade (será de facto) das mulheres, etc., etc., etc. Com os métodos contraceptivos banalizados e massificados e ao alcance de todos que existem hoje em dia, o pretexto está muitíssimo enfraquecido. Para casos de violação, malformações do feto, perigo de vida da mãe ou outras excepções, isso sou e serei sempre inquestionavelmente a favor do aborto, mas afinal, isso com a lei actual já é possível.

Não marginalizarei ninguém que vote sim, nem me aproximarei mais de alguém que vote NÃO. Façam o vosso juízo, formem a vossa ideia e vão votar, só assim saberemos o que de facto “todos” pensamos sobre este assunto e “todos” podemos construir o nosso futuro e o futuro do país; mal ou bem, evoluído, liberalista ou retrógrado, com ou sem valores, será o nosso!

5 comentários

Anónimo disse...

"Com os métodos contraceptivos banalizados e massificados e ao alcance de todos que existem hoje em dia, o pretexto está muitíssimo enfraquecido"... caríssimo aceito este argumento no dia em que a informação, a educação e a capacidade de planeamento cheguem realmente a todos, talvez no mesmo dia em que já não haja pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza no nosso país... a questão não está em ser contra ou a favor do aborto - essa é realmente foro da consciência de cada um - mas de permitir que quem precise de o fazer o possa fazer com dignidade e segurança... porque quem tem dinheiro,e muitos dos que estão pelo Não, manda as filhas, sobrinhas, netas e demais a espanha ou inglaterra fazer os seus...

p.s. tenho uma filha de 14 meses que foi a melhor coisa que me aconteceu na vida, e nunca ponderei não a ter embora tenha aparecido num dos momentos que menos convinha, e tenho outro a caminho...

Vera disse...

"porque quem tem dinheiro,e muitos dos que estão pelo Não, manda as filhas, sobrinhas, netas e demais a espanha ou inglaterra fazer os seus..."

totalmente de acordo com este comentario..

espero q TODOS façam o esforço de pensar por si proprios e n irem atrás de determinado grupo/religião/partido... e votem! seja no Não ou no Sim.. mas votem!

PE disse...

Sem dúvida que concordo consigo, caro Filipe! Não podemos é estar a correr o risco, penso eu, de “emendar” um erro com outro erro.

Não sou partidário do sim ou do não em particular, apenas voto não porque, como disse e muito bem em relação aos métodos contraceptivos, o mesmo esclarecimento mas neste caso em torno do aborto, também não é claro e perceptível e massificado, tentando enveredar por uma vertente que nos dizem ser meramente do interesse das mulheres, sem nos darem esclarecimentos ou argumentos que possamos utilizar para claramente tomarmos as nossas posições. Tendo por base não o interesse da pessoa em si, mas o interesse de alguns grupos de pressão e interesses que existem na sociedade portuguesa, vai-se fazendo campanha.... Não será assim de estranhar que mesmo antes do referendo já existam inúmeros pedidos de autorização, por parte de clínicas privadas, para poderem fazer abortos.

Acho também que a nossa mentalidade está ainda muito distante dos países ditos evoluídos e que assim poderíamos passar a considerar o aborto como mero método contraceptivo, como o preservativo, a pílula, DIU ou outros, o que não é, nem nunca será!

Por isto e apenas e só (acha pouco?) por isto, votarei não.

Quando tivermos verdadeiramente a consciência do que está em causa e percebermos todos o que significa e implica, em termos pessoais e sociais, fazer um aborto, aí sim, estaremos maduros o suficiente para podermos ter o aborto liberalizado em Portugal. Até lá, não poderemos ter a pertinência de nos querermos imiscuir no seio dos países que já possuem essa legislação, sobre o risco de passarmos a ser aliciados para uma coisa que não é bem como nos dizem ser.

Mas a maioria dirá de sua justiça no dia do referendo...

P.S. – parabéns pela sua filha, ou melhor, pelos seus dois filhos! Espere que corra tudo bem para o que aí vem e que não se fique apenas por aqui, no número de filhos... :-)

Mariana disse...

Não desrespeitando a posição de ninguém, acho que a questão fulcral não está a ser tida em conta. A questão é se devemos ser nós comuns mortais, que devemos condenar quem praticou um acto destes, sejam quais forem as suas razões. Eu não concordo com o aborto, aliás não acho que haja alguém que concorde. Quem o fez ou faz não fica de todo indiferente porque tem consciência que tinha uma pessoa dentro dela. mas quem somos nós para julgar/penalizar as razões pelas quais pessoa Y ou X o fez? Essa sim é a questão do referendo. Quem nunca errou que atire a primeira pedra...

PE disse...

Condenar nunca e proibir também não será a melhor solução para o “mal”!
Mas, como em muitas outras coisas, o que nos parece impraticável a nós, poderá assim não parecer aos outros. E como em tantas outras coisas, o vivermos em sociedade, pressupõe a existência de regras e um conjunto de boas acções (ou pelo menos desejáveis) que devem ser seguidas.
Sendo assim, será que consideramos o aborto uma boa acção ou, quanto muito, quereremos que ele seja incluído no nosso rol de regras?
Não condeno ninguém e até posso compreender e apoiar quem o tenha feito, mas não quereria nada que o aborto fosse “listado” como uma hipótese aceitável (e legal) para quem quer que fosse.
A banalização e a massificação, é um dos grandes males do nosso mundo...